quinta-feira, 9 de junho de 2011

The Ego and the Matter

Translation of this
http://pietroborghi.blogspot.com/2011/06/das-ego-und-die-materie.html.
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There are those who believe that the mind in itself can be perceived. My take on it: sustaining that a mind can attain an immediate knowledge of itself is as absurd as the belief that a certain hammer could smash itself.
The mind is merely a tool. One has the faculty to know, which only makes sense as long as there is something to be known. Were it different, it would mean that the Knower could be in effect his Known, at the same time being Subject and Object. Such thought would then lead to the possibility of a learning experience independent of any object other than the mind — the faculty to know — of which relevance consists however in its relationship to the remainder of objects. With that said, what could the mind learn? That it can learn. But how can it be sure, if it has nothing learned and there is nothing to learn at all? It cannot. Therefore the existence of the mind manifests itself only in relationship to the sensible world, as it is a Knower; as such, it presupposes a Known, which is different than the Knower itself. When one thinks of himself, the Known is not his faculty to know, but his relation to something else, how he interacts with his environment. The mind, itself, is empty.
Think, for example, whether you are morally good or evil. What determines your answer? Whence do you draw it? From experience, from similar occurences you have previously undergone, bearing in mind your behaviour in these. You always need external proof for your statements, even if — and perhaps even more if — such statements are about yourself, for the experience, the matter, is everything that is the case.

The mind, itself, is empty.


Pietro Borghi

segunda-feira, 6 de junho de 2011

O Papel do Pfsô

Escrevi esse texto há uns 5 anos, mas até que não está ruim. E, muito infelizmente, não está defasado. There you go!
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Durante muito tempo os profissionais da educação, cientistas da educação e etc. vêm discutindo “o papel do professor”, “como lidar com alunos assim, com alunos assado, cozido, frito”, “metodologias de ensino para os professores”, “atualização de professores”, “a evolução da escola” e blá-blá-blá. Tudo isso é uma miserável, terrível, incomensurável perda de tempo. Os professores não são o mais importante. Devem parar com essa megalomania de que estão mostrando a luz aos alunos, de que são “o caminho, a verdade e a vida” para os pobres coitados que ainda não são gente. Os alunos não são ratos de laboratório, para testar se os professores são bons ou não. O aluno deve usufruir a escola, e não a escola usar o aluno para conseguir fama e verba dos fundos de educação. Pensam vaidosamente nos alunos como um mero monte de barro que precisa ser moldado para ficar belo e lustroso, aumentando seu preço de venda para o mercado de trabalho — o qual deveria chamar-se mercado de trabalhadores, uma nova forma de escravidão.
Pois infelizmente, como uns punhados de barro são vistos os “estudantes”, que, ironicamente, graças à escola, detestam o estudo. São bem moldados no ensino fundamental e médio para assim garantir o selo de qualidade de uma Unicamp, de uma USP, ou de algum órgão certificado para avaliar os potes de barro. Os pouco promissores, um tanto defeituosos, que sigam seu caminho para um curso técnico ou para uma universidade classe B. Serão os excelentes serviçais das “grandes pessoas” formadas nas grandes universidades.
Se os professores realmente quisessem mudar algo, começariam por eles mesmos. Eu posso ajudar, escrevendo os princípios para um manual do professor, que não deveria se estender muito, ou já começarão a elaborar teorias incompreensíveis e alienadas a partir de regras suficientemente claras. Pois aqui vai:
1. Jamais tratar o aluno como inferior;
2. Jamais se negar a sanar uma dúvida do aluno (a não ser que não saiba a resposta);
3. No caso acima, se não souber a resposta, não invente. Admita que não sabe e ajude o aluno a encontrar a solução;
4. Deixe bem claro que você está à inteira disposição do aluno, assim ele não temerá pedir ajuda e a ser humilde (não confunda com modéstia!).
5. Se não pode ajudar, não atrapalhe. Se o item 4 for cumprido, não há necessidade de ficar se oferecendo ou de dizer ao aluno como se deve fazer.

Em resumo, o professor é o auxiliar do aluno, não a mula teimosa que o carrega nas costas pra onde ela quer. E ser auxiliar não dói, ao contrário de ser mula, pois carregar mais de trinta alunos nas costas, ainda por cima na direção para a qual ninguém quer ir, com certeza causará um terrível problema de coluna.


Pietro Borghi

Das Ego und die Materie

Es gibt diejenige, die glauben, dass der menschliche Geist an sich begriffen werden kann. Mein Gedank darüber: festhalten, dass ein Geist eine unmittelbare Erkenntnis über sich erreichen kann, ist als sinnlos als der Glaube, ein Hammer sich selbst schlagen könnte.
Der Geist ist nur ein Gerät; man hat eine Wissensfähigkeit, die sinnvoll ist nur solange es hat etwas zu erkennen. Wäre es sonst, das hieße der Erkennende als sein Erkannt gelten könnte; Subjekt und Objekt gleichzeitig wäre. Wenn dieses Gerät aber gar nicht weiß, dann diese Gedankengang führt zur Möglichkeit eines Lernens ohne andere Objekte, nur die selbste Wissensfähigkeit, deren Bedeutung besteht jedoch aus ihre Beziehung zum Rest Objekte. Was könnte somit der Geist über sich lernen dann? Dass er lernen kann. Aber wie kann er da gewiss sein, wenn er nichts gelernt hat, und es nichts zu lernen gibt? Er kann nicht. Daher die Existenz des Geistes einleuchtet nur in Beziehung zur sinnlichen Welt, als er ein Erkennende ist; so setzt er ein Erkannt voraus, der verschieden von sich ist. Wann man über sich nachdenkt, der Erkannt ist nicht seine Wissensfähikeit, aber seine Beziehungen zu etwas anderes, wie das Subjekt wechselspielt mit seiner Umgebung. Der Geist ist leer. 
Bedenk mal, z. B., ob du moralisch gut oder böse bist. Was bestimmt deine Antwort? Woraus ziehst es du? Aus der Erfahrung, aus den ähnlichen Ereignissen du zuvor durchlebt hast, berücksichtigend wie du hast benommen. Du brauchst immer äußerlichen Beweis für deine Aussage, selbst wenn — und vielleicht sogar mehr — du über dich selbst sagen sollst, als die Erfahrung, die Materie, ist alles, dass der Fall ist.

Der Geist ist leer.

(Wenn da es gibt etwas falsch geschrieben, korrigiere mich doch bitte)


Pietro Borghi

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Tudo que sei é que nada... sabem!

Poesia noturna, 
Sob a trêmula luz que se apaga,
querendo ouvir baixinho
os sussurros reveladores
de vozes incessantes, retumbantes,
ardentes no desejo de atenção.
Isso, atenção.

Cambada de carentes, no coração e no cérebro. Buscam a identificação, o que é natural; e procuram a centelha de semelhança. E se assemelham onde? Bem ali, no traço do qual todos deveriam prescindir. Criticam com a palavra dos mortos, dos desconhecidos mais populares, daqueles que possam conferir a patente mais alta no círculo dos proto-sabidos. Cultuando a dúvida não pela sua utilidade, mas pelo ar blasé, exalando aura de pretensão despretensiosa; quem questiona aparenta mais neurônios que quem responde. E se arrisca menos também.
Não sabem de nada que fuja às sessões de debate infrutíferas em busca da resposta para pergunta nenhuma, ou para o que não sabem perguntar. O discurso floreado é só labirinto do pensamento, sem substância, ornando com ouro a casa demolida. Sem substância. E sem substância seguem, pois vale o esforço. Que esforço? Ninguém vira Messi jogando futebol no videogame. A arte não é plataforma para comunicação frívola; a letra não salva o conceito. Não deve ser abusada, estuprada. Deitam-se com a arte para gozo próprio e lhe devolvem traumas. Inocuamente ferozes, esses meninos e meninas. Perderam os laços com os próprios cérebros e querem emendar às pressas, pois o desprovimento de poderes mais práticos exige uma auto-elevação alternativa.

A tática até serve de improviso — mas só de improviso. Não chega a José Saramago quem reedita Paulo Coelho.


Pietro Borghi

terça-feira, 1 de março de 2011

Mas é porque eu quero, não porque você mandou.

Sentei eu para comer em uma noite dessas e me senti tenso; muito, muito desconfortável. Tirei os fones das orelhas e me acalmei — acalme-se você também, isso aqui não é arte pós-moderna, obscura e aleijada; eu tenho um propósito com essa banalidade. Como eu escrevia, tirei os fones. E pensei sobre o porquê da tensão anterior e do alívio posterior. Concluí que, como estava eu sozinho, me alimentando, à noite, seria desvantajoso estar alheio ao ambiente. Permanecer alerta para se proteger e proteger a própria comida é imperativo, caros bípedes. Assim, instintivamente tirei os fones para evitar ser surpreendido com uma facada nas costelas. Simples utilitarismo.
A questão de fato relevante que me surgiu dessa banalidade foi da possibilidade do livre-arbítrio. Pois eu não escolhi tirar os fones. Não refleti, não ponderei; agi e pronto. O livre-arbítrio pressupõe uma livre escolha — obviamente não em todos os atos —, independente de qualquer influência material, diga-se, imediata. Imediata, como na contração muscular abrupta depois de um choque. Uma arma na cabeça não é uma influência material imediata, assim como também não o é comer sozinho à noite com fones nas orelhas.
Nas decisões mediatas, com tempo de decisão, o problema é outro. Assume-se que cada um exerce a sua vontade de acordo com a situação, sem deixar-se sem escolher (mesmo quando se diz "eu não tinha escolha", geralmente se quer dizer que as alternativas eram muito inferiores). A concepção de determinismo é contra-intuitiva, pois as pessoas percebem-se querendo e decidindo e agindo. Percebem-se livremente arbitrárias (?!).
No entanto a ciência, do outro lado do ringue e vestindo calções vermelhos, golpeia impiedosamente, fazendo escorrer cada vez mais a liberdade pelo nariz do pobre arbítrio. As decisões, que estranhamente querem os humanóides que sejam isoladas, destacadas do mundo, nada mais são que o seu corpo reagindo quimicamente aos dados sensíveis. Pobres marionetes.
A ideia de livre-arbítrio se funda na crença de um intelecto independente do corpo, de uma dualidade entre matéria e algo espiritual, intangível, transcendente (veja que os significados portugueses de mente e espírito compartilham em francês um único vocábulo: esprit; o mesmo vale para o alemão Geist). Pois a mente que percebe o mundo não percebe a si própria, não sente a si própria; é para si imperscrutável. Um braço perdido não impede a faculdade de reconhecer a perda, já uma mente perdida não saberá que se foi. Não saberá nada, pois aquilo que poderia saber não existirá mais. E o que é a mente? É o seu cérebro, caboclo — não passa disso. Observe que todo o misticismo advém de um ou outro grau de ignorância, e da relutância em admiti-la. A mente, espírito, Geist, esprit, Tico e Teco, etc não passa de lobos, hipotálamo, córtex, neurônios, connectomes. Isso não significa que sua vontade seja controlada por enzimas e impulsos elétricos. Isso significa que essas enzimas, esses choquinhos, esse peso dentro do seu crânio, são a sua vontade. Eles são você, e você não passa disso.

Mas não há motivo para desespero, garotada, nem para acreditar em um 2012 apocalíptico com você ganhando uma coleção de jogos do Gugu entregues pelo Restart. Porque o arbítrio, materialmente determinado, não é menos seu por isso. Porque ser marionete de si mesmo está longe de configurar tirania.
E porque não poder enxergar atrás das órbitas não retira a beleza do que está à frente delas.


Pietro Borghi

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Nouveau, pas neuf!

Essa é uma resenha sob encomenda escrita em 2009 que acabou não sendo utilizada. Economizei no sal porque o autor oficial era mais bondoso; tive de assumir o personagem. Minha crítica sincera e reflexiva é que o livro — O Monge e o Executivo — seria ótimo para quando faltasse lenha num acampamento. Basta observar o gênero: auto-ajuda.

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Escrito por James C. Hunter, consultor e palestrante na área de RH e treinamento (aquele tipo conhecido como “coaching”), O Monge e o Executivo figura entre os livros de fácil compreensão e um bom tempero motivacional. John Daily, o protagonista e companheiro de aprendizado durante o livro, conta-nos sua história de típico homem de negócios bem-sucedido, com um bom salário, um cargo de gerência em uma fábrica de vidro plano, uma linda e carinhosa esposa, dois filhos, dois carros novos, bons passeios de férias, enfim, tudo que se idealiza como uma vida agradável nos tempos modernos.

Sua situação gloriosa, no entanto, reverte-se (ou melhor, revela-se) surpreendentemente em todos os aspectos: seu filho mais velho se rebela, os quinhentos funcionários da fábrica sob sua gerência fazem o mesmo exigindo mais direitos, sua esposa não se sente satisfeita e até os jogadores do time de beisebol que ele dirige como voluntário não aprovam seu trabalho. O que fazer diante deste colapso? John Daily aceita a contragosto a sugestão de sua mulher de fazer um retiro num mosteiro de Michigan, onde muitos em situações similares se recolhem para repensar suas vidas. O administrador só se sente animado com uma informação: um quase lendário homem de negócios que havia desaparecido há algum tempo ministrava um curso de liderança no local.

Naturalmente o interesse de John reside na oportunidade de aprender com Len Hoffman, o referido professor, rebatizado como Simeão no mosteiro. O aprendizado, em grupo, apresenta conceitos para uma liderança mais eficiente em todas as áreas da vida, condensados em uma idéia básica: para liderar é necessário servir.

Servir significa suprir as necessidades dos liderados, oferecer-lhes condições agradáveis para executar seus trabalhos. Esta idéia traz maior responsabilidade aos gerentes, e apesar de não ser tão obscura, continua sendo amplamente ignorada em nosso mundo de negócios.

Ao final da semana de aprendizado, John reformula sua maneira de tratar seus relacionamentos — como havia dito Simeão, o ponto principal de qualquer área da vida —, agradecendo seu professor e seus colegas de curso, voltando para sua linda mulher e filhos e, é claro, para uma nova vida.

O livro de Hunter em geral trabalha com estereótipos e apresenta as ideias de maneira bem fácil, talvez leviana, um elemento característico do gênero auto-ajuda e/ou popular. Não que seja uma exigência o rigor acadêmico — como já disse Malcolm Gladwell, o leitor comum não quer ser convencido, e sim cativado —, mas diversas vezes incomoda a falta de desenvolvimento deste ou daquele conceito, recorrendo somente à autoridade do senso comum. O Monge e o Executivo, em suma, conta o que todo líder natural reconhece como a Regra de Ouro: trate como gostaria de ser tratado. Esperemos que os que são apenas gerentes aprendam.



Informações do livro:
Nome: O Monge e o Executivo (The Servant no original)
Autor: James C. Hunter
Editora: Sextante (Rio de Janeiro)
Gênero: Liderança
Ano: 2004 (edição brasileira), 1998 (edição original em inglês)
Tradutora: Maria da Conceição Fornos de Magalhães

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Note a desmotivação em escrever; como as sentenças se arrastam ou se atropelam, são escritas de maneira forçosa em alguns pontos e apressada em outros. Difícil fingir cordialidade com algo que eu desprezo tanto. Mas pelo menos valeu um post, uai!


Pietro Borghi

sábado, 1 de janeiro de 2011

Sei não, rapaz. (e você também não sabe, ha!)

Agora segue a minha refutação das análises feitas por Daniel Grandinetti. Se você não leu o texto anterior até ler isso aqui, nem precisa. É muito mais legal assistir a implosão que a construção.
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"Se Deus é determinado, então ele é alguma coisa espaço-temporal. A indeterminação representa a não-temporalidade e a não-espacialidade; ou seja, Deus só seria atemporal e não-espacial se fosse indeterminado."

Há aí uma distinção entre imanência e transcendência, não entre determinação e indeterminação. Indeterminado é aquilo que não se distingue do todo. Alma, pensamentos, Deus, são conceitos claramente distintos, com características próprias. Partilhar da transcendência — i.e. não ser condicionado por espaço e tempo — não os torna conceitualmente inseparáveis e difusos. Mesmo que assim fosse, somente a característica de não serem espaço-temporais já os livra da definição de "coleção de todas as coisas", já que possuem uma propriedade incompatível com o grupo das coisas imanentes. A primeira análise se baseia sobre a indeterminação de Deus; uma vez derrubada essa proposição, derrubada também a conclusão.

"Tudo o que é determinado é FINITO. “Infinito” significa ‘aquilo que não possui limites’, e aquilo que não possui limites não pode ser distinto ou diferente de nada, pois toda forma de diferença é uma forma de limitação. Assim, o infinito não pode ser oposto ou diferente da finitude, pois dessa forma o próprio infinito estaria determinado e limitado pela finitude, e seria finito ele mesmo. Se o infinito não pode ser oposto à finitude, deve ser igual à ela. Como?? “Infinito” é o conjunto sem limites de todas as coisas finitas, ou seja, ‘infinito’ é sinônimo de ‘indeterminado’,

Infinito e indeterminado não são sinônimos. O infinito não é a completa diluição de todos os conceitos em um só, mas a intensificação de uma grandeza de um conceito de maneira inatingível por qualquer outra grandeza. A série dos números reais é infinita, no entanto não pretende conter uma infinitude de conceitos. Ela é determinada de alguma forma, sem que isso a torne finita.

"e alguma coisa só se torna infinita ou indeterminada caso se determine de todas as formas possíveis, ad infinitum."

Determinamos algo para que se torne indeterminado? Então, como eu sou solidário, refutei as análises para corroborá-las.


Pietro Borghi

Não existe!

Agradeço a Daniel Grandinetti por permitir que eu publicasse aqui (mesmo um público mínimo como o desse blog é um público, coléguas!) seu texto que segue.

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Deus não existe, e eu PROVO:
Definição de Deus:


Por ‘Deus’ entende-se, na cultura judaico-cristã, um ser superior, infinito, onisciente, onipresente e onipotente que é criador e fundamento de todas as coisas.

Análise da definição de Deus e demonstração da IMPOSSIBILIDADE de sua existência:

Primeira Análise:

Se Deus é o criador do mundo, ele é distinto de sua criação. Se é distinto de sua criação, ele é determinado, pois toda forma de diferença é uma forma de determinação. Assim, afirmar que Deus é alguma coisa determinada significa dizer que ‘alguma coisa é Deus, mas Deus não é todas as coisas’.
Se Deus é determinado, então ele é alguma coisa espaço-temporal. A indeterminação representa a não-temporalidade e a não-espacialidade; ou seja, Deus só seria atemporal e não-espacial se fosse indeterminado.
Porém, se Deus existe no tempo e no espaço, ele próprio não poderia ser nem o criador e nem o fundamento do tempo e do espaço. Se ele fosse seu criador, ele seria o criador de si mesmo e, na condição de ‘criatura’, não poderia ser Deus. Se ele fosse o fundamento do tempo e do espaço, teria que ser algo diferente tanto do espaço quanto do tempo; caso contrário, ele não poderia acabar com o tempo e com o espaço sem acabar consigo mesmo.
LOGO, é IMPOSSÍVEL que exista um ser que tenha criado o mundo, já que a pressuposição da existência de um tal ser implica na diferença entre este ser e a coisa criada, e tal distinção necessariamente estabelece este ser como um ente espaço-temporal que, nestas condições, não poderia ser nem o criador e nem o fundamento do tempo e do espaço.

Segunda Análise:

Tudo o que é determinado é FINITO. “Infinito” significa ‘aquilo que não possui limites’, e aquilo que não possui limites não pode ser distinto ou diferente de nada, pois toda forma de diferença é uma forma de limitação. Assim, o infinito não pode ser oposto ou diferente da finitude, pois dessa forma o próprio infinito estaria determinado e limitado pela finitude, e seria finito ele mesmo. Se o infinito não pode ser oposto à finitude, deve ser igual à ela. Como?? “Infinito” é o conjunto sem limites de todas as coisas finitas, ou seja, ‘infinito’ é sinônimo de ‘indeterminado’, e alguma coisa só se torna infinita ou indeterminada caso se determine de todas as formas possíveis, ad infinitum.
Se o infinito é indeterminado, então aquilo que é infinito é INDISTINTO de tudo mais.
Assim, se Deus é infinito, ele não pode ser onipresente. Pois aquilo que ‘está presente em todas as coisas’ é DIFERENTE das coisas nas quais está presente. ‘Presença’ é diferente de ‘indistinção’. Se alguma coisa está presente em outra, estas duas coisas são distintas, e apresentam uma RELAÇÃO, não a condição de ‘indistinção’.
Se Deus é infinito, ele não pode ser ‘onisciente’. Toda forma de consciência implica na distinção entre sujeito e objeto. Onde não há esta distinção, não há consciência. Entretanto, se Deus é infinito, não pode haver qualquer espécie de distinção entre Ele enquanto ‘sujeito’ e todas as coisas enquanto ‘objeto’; assim, Ele não pode ser ‘consciente de todas as coisas’.
Se Deus é infinito, ele não pode ser onipotente. O poder de fazer tudo significa o poder de transformar ou criar qualquer coisa. Entretanto, isto implica na distinção entre um sujeito criador ou transformador e um objeto criado ou transformado. Mas na definição de infinito não cabe qualquer distinção deste tipo.
LOGO, se Deus é infinito, ele não pode ser nem onipotente, nem onipresente, nem onisciente. Por sua vez, se Deus não for infinito, ele não pode ser nem o fundamento e nem o criador de nada, e, assim, não pode ser onipotente, pois não teria poderes ilimitados d ecriação e transformação. Além do mais, se Deus não é infinito ele pode ser dotado de consciência, mas não da consciência de todas as coisas, já que a consciência de todas as coisas seria exatamente a consciência do INFINITO, que é INDETERMINADA e que, portanto, não é consciência alguma. Assim, Deus não pode ser onisciente. O mesmo raciocínio vale para a onipresença: se Deus estivesse presente em TODAS as coisas, ele seria, na verdade, infinito. A distinção entre Deus e as coisas nas quais ele está presente implica no fato de que há instâncias destas coisas nas quais Deus não está presente.

Conclusão:

Se Deus é infinito, ele não pode ser o criador do mundo, não pode ser o fundamento de todas as coisas, não pode ser onisciente, onipotente e onipresente e, por outro lado, se Deus é finito ele também não pode ser o criador do mundo, não pode ser o fundamento de todas as coisas, não pode ser onisciente, onipotente e onipresente!!! O conceito de Deus é INSUSTENTÁVEL, por qualquer meio pelo qual se tente analisa-lo.

Observações:

Este é um estudo filosófico, dentro da mais conscienciosa lógica da filosofia ocidental. Assim, é bem provável que sua linguagem seja incompreensível para quem não tem uma grande familiaridade com a Filosofia. Entretanto, eu sugiro VEEMENTEMENTE que todo aquele que quiser expor opinião contrária se prenda nas premissas e tente REFUTÁ-LAS. Defesas clamorosas, piegas, sentimentalistas ou dogmáticas da existência de Deus devem ser evitadas.


Daniel Grandinetti