quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Round 3: Finish Him !

    Tréplica à direção:


Antes de tudo, somente escrevo esta resposta por causa da recusa da direção em me atender para conversar.

Vou discutir a seguir as questões que vocês levantam sobre meu texto:

A respeito de a escola formar e aprimorar idéias, não seria mais correto dizer que vocês lobotomizam o aluno e introduzem os ideais de vocês? Claramente os indivíduos discordam uns dos outros, é natural. Mas e se eu fosse o diretor e vocês os alunos, pensariam ser justo que eu impusesse minhas opiniões, suprimindo as suas?

Atualmente pregamos tanto que devemos respeitar todos independentemente da raça, opção sexual, sexo, religião e outras diferenças físicas e morais. Mas sendo religião uma questão de ideal, então vocês deveriam moldar ou suprimir isso também? Não, não podem. É direito de qualquer um escolher sua religião, seria normal que isso fosse válido também para outros tipos de opinião. Comparo minha situação com Galilei, não discutindo o mérito ou a inteligência, apenas analisando o cenário. Se ele não negasse suas descobertas, acabaria morto. Porém, como ele disse, podem arrancar tudo de uma pessoa, exceto seus ideais. Podem tentar modificá-los, mas a pessoa faz sua escolha.

Todavia, eu ponho em xeque sua maneira de trabalhar, logo eu os atinjo, sendo assim, devo ser enquadrado e domesticado.

No terceiro e quarto parágrafos vocês exprimem exatamente a intenção da escola: formar figuras decorativas, muito belas para mostrar e dizer, “Olha, fui eu que fiz”, mas revelando que não se importam com as pessoas que ali existem, e sim com o mérito que se consegue através delas. Uma grande lição de ética, eu devo dizer.

E pouco me importo se os alunos da escola José Alvim ganharam dois ou duzentos prêmios, as competições são feitas de acordo com as escolas, não mudando o fato de que o sistema é falho. Quero deixar bem claro que não é apenas a E. E. José Alvim que se mostra defeituosa, mas todas as instituições escolares, com as pouquíssimas exceções que são as escolas libertárias.

Sobre me considerarem imaturo, talvez não façam o mesmo julgamento em relação a André Forastieri, diretor da Conrad Editora, ou Rubem Alves, professor emérito da Unicamp. Inclusive há um escritor muito obscuro, praticamente desconhecido, de nome Carlos Drummond de Andrade. Se me falta experiência, com certeza a eles não, e eles têm a mesma opinião que eu sobre o ensino.

Também não vejo no texto nada sobre minha perícia em xadrez, apenas indiquei a falta de coerência da professora, que em vez de manter a sala organizada preferiu permitir que os alunos gritassem, e quando digo isso, é porque eles gritavam realmente. Mas ela se incomodou comigo. Visto que mais três alunos estavam jogando xadrez, por que só eu fui chamado à diretoria?

Observa-se que não leram com atenção o que escrevi, pois não disse que vejo a escola como um lugar para dormir, mas que durmo por falta de motivação. E sim, compareço contra a minha vontade e, a não ser que vocês sejam extremamente míopes, boa parte dos alunos comparece à escola apenas por obrigação.

Realmente, devo admitir que aprendi algumas coisas na escola, mas não fiquem felizes ainda, eu hei de explicar. Geralmente, dependendo do professor, eu converso sobre assuntos variados quando eles estão disponíveis. Essas conversas acrescentam conhecimento, mas eu poderia tê-las em uma livraria, uma praça, um bar ou na rua. Aliás, se são muitos os professores competentes trabalhando na Escola Estadual José Alvim, devem tê-los escondido em alguma gaveta da diretoria, pois só vejo alguns poucos.

Outra coisa que devo em parte à escola: minha criticidade. Jamais fui incentivado a ser crítico dentro dela, mas os erros que vi me motivaram a desenvolver o que havia captado no texto de André Forastieri.

Sinceramente não tencionei indicar que a escola não está ao alcance do meu potencial, mas repito que esse sistema é horrível para todos. Todos.

Vocês também não estão cientes de qual lugar eu ocupava. Eu sentava na quarta fileira da esquerda para a direita, na primeira carteira, a mais próxima da lousa. Porém fui mudado para o fundo, para depois retornar ao meu lugar original. Informo-lhes também que, para sua surpresa, a aluna com as melhores notas da sala sentava-se em uma das carteiras do fundo. Sei que preferem citações compostas apenas de uma palavra ou de sentenças simples, mas eu citarei um parágrafo completo da resposta que recebi e que se encaixa muito bem aqui: “Vale refletir e ponderar melhor suas considerações antes de usá-las da (sic) forma precipitada e inadequada.”

Desconsidero o décimo parágrafo por ser de interpretação primária do que escrevi. De qualquer forma, digo que a escola está em completo descaso com os alunos e não o contrário.

Boa tentativa de me enganar, mas eu sei que os pedidos de mudança de sala não são negados a todos os alunos desta escola. Duas alunas da 3ª série C foram atendidas, uma das quais eu conheço o nome, Elenice. Se esse direito foi dado a elas, por que é negado a mim? A resposta é óbvia, e seria muito mais nobre se fossem sinceros. A injustiça persistiria, mas teriam evitado a covardia.

Como eu já sabia, vocês interpretaram tudo como quiseram. Espero ter esclarecido suas indagações.


Pietro Borghi