segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Comiserai-vos dos pobres burgueses!

Ganhei de presente este e-mail — solstício de verão adiantado. Logo depois há um leve comentário.

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KIT DO BRASILEIRO

*Vai transar?*
O governo dá camisinha.
*Já transou?*
O governo dá a pílula do dia seguinte.
*Teve filho?*
O governo dá o Bolsa Família..
 *Tá desempregado?*
O governo dá Bolsa Desemprego.
 *Vai prestar vestibular?*
O governo dá o Bolsa Cota.
 *Não tem terra?*
O governo dá o Bolsa Invasão e ainda te aposenta.
*RESOLVEU VIRAR BANDIDO E FOI PRESO?*
a partir de 1º/1/2010 O GOVERNO DÁ O AUXÍLIO RECLUSÃO?
 

*esse é novo*
Todo presidiário com filhos tem direito a uma bolsa que, é de R$798,30 "por filho" para sustentar a família, já que ocoitadinho não pode trabalhar para sustentar os filhos por estar preso.

Não acredita?
Confira no site da Previdência Social.

Portaria nº 48, de 12/2/2009, do INSS
(http://www.previdenciasocial.gov.br/conteudoDinamico.php?id=22)

*Mas experimenta estudar e andar na linha pra ver o que é que te acontece!*



"Trabalhe duro, pois milhões de pessoas que vivem do Fome-Zero e do Bolsa-Família, sem trabalhar, dependem de você"

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Governo assistencialista, né não? Pois claramente é um crime manter vagabundos ganhando o Bolsa-Família, em vez de lhes entregar ao vampirismo dos empresários. Nada de Bolsa-Esmola; o correto é o Salário-Esmola. Apertem os parafusos da TV que vale quatro salários seus; instalem a pastilha de freio do carro que jamais terão; cortem a cana que locomove os seus exploradores. Isso sim é justiça! (ou seria, não fosse o desemprego condição necessária para o exercício do poder oligárquico).

Pois e os sem-terra, corja baderneira e ilegal? Companheirada do governo! Acham que ninguém vê na televisão e nas revistas as depredações desses camponeses que pensam ter direito a meios de subsistência? Pois está sempre lá, coleguinhas, no Jornal Nacional, na Veja, no papelote (sacaram?) da família Frias — essa tão “frias” que me dá calafrios — e nas outras “miguxas midiáticas”.

A meritocracia, como tão despreparadamente acusam os detratores do capitalismo, não ocorre neste fofo sisteminha. Afinal, quem já nasce cheio de oportunidades não faz mais que a obrigação de prevalecer. Na piscina da sociedade plutocrática, uns nadam vestindo LZR Racer e outros vestindo roupas de palhaço. E nesse caso, caro burguês, o palhaço não é você.


Pietro Borghi

domingo, 14 de novembro de 2010

Errata. Ou não.

Descobri que inverti os papéis na estorinha anterior. Aqui está a original: http://cljparoquiasaojose.blogspot.com/2010/07/o-barbeiro-e-deus_18.html.

Parece até que eu manipulei para privilegiar o meu ponto de vista. Parece? Isso não altera a moral da história, que ressalta o benefício de bondade infinita a todos aqueles que crêem no todo-poderoso. E isso acontece? Olhe para todos que acreditam no Senhor. Olhe para o percentual de crentes encarcerados. Olhe para o número de doentes que morrem não obstante a persistência na fé. Podem argumentar que lhes faltou uma colherada, mas só me contento quando inventarem um "pistisômetro" (precisei do neologismo agora; πίστης, pistis, significa fé em grego). E mesmo assim, fé em alguma coisa não prova a existência dela. Acreditar em unicórnios os torna mais prováveis?

Na prática, Deus é um barbeiro à la Sweeney Todd, cortando a garganta dos infelizes. Basta lembrar das ordens supremas que Josué recebeu: degola sem hesitação. Com a ressalva do cardápio, pois o Senhor não serve torta. Só churrasco.


Pietro Borghi

sábado, 13 de novembro de 2010

Deus, o Barbeiro

Um homem (nessa parábola, homem) foi ao barbeiro, requisitar o serviço óbvio. Como é comum nessas situações — nunca fui mas deve ser uma espécie de cabeleireiro heterossexual —, o homem e o profissional começam um diálogo profundo sobre o pênalti não marcado, o imbecil que fechou no trânsito (evitando o xingamento comum, é claro) e cada par de pernas femininas à vista. Com extrema leviandade, o homem levanta a questão: Deus existe? O educadíssimo barbeiro responde que deve existir, e que ele é supremamente bom, criador de todas as coisas, onipotente, onisciente, onipresente, onimaníaco, onívoro, oni, oni... qualifica o barbudo celeste ad nauseam.
O homem discorda de pronto, contestando como um deus tão bom poderia ter como obra a cruel e imperfeita realidade. O barbeiro, ainda educado, diz que as pessoas têm seu livre arbítrio para escolher encontrá-lo e se banhar na sua luz. Que depende tão-somente de cada pessoa obedecer sinhozinho Deus para ser feliz. E exemplifica com a sua profissão, afinal:

— Olhe só pela janela. Vê que nas ruas há muitas pessoas com a barba mal-cuidada e desalinhada? Ainda assim estou aqui, e quem vier terá seu semblante tratado e asseado com os meus serviços. Não posso buscá-los todos, trazê-los e forçá-los a me aceitar.

Assim se convence o homem de que Deus, se existe, tem razão em ficar parado num templo esperando a clientela, apesar da onipresença; em exigir orações e confissões, apesar da onisciência; em permitir o mal enquanto prefere o bem, apesar da onipotência.
Ouvi eu essa parábola, e ficou evidente que o barbeiro era Deus disfarçado, espalhando sua sabedoria sorrateiramente. Procurando um pouco mais fundo, fui saber o resultado do serviço divino no rosto do simpático personagem.

Aí está:


É isso que vemos. É isso que está do outro lado da janela, seja um santo ou um demônio. Não há distinção entre ímpios e crentes no grupo dos desgraçados. Não há ajuda ou castigo para quem acredita mais ou menos.

Por isso, eu mesmo faço a minha barba.


Pietro Borghi

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

God

"Strange, indeed, that you should not have suspected that your universe and its contents were only dreams, visions, fiction! Strange, because they are so frankly and hysterically insane - like all dreams: a God who could make good children as easily as bad, yet preferred to make bad ones; who could have made every one of them happy, yet never made a single happy one; who made them prize their bitter life, yet stingily cut it short; who gave his angels eternal happiness unearned, yet required his other children to earn it; who gave his angels painless lives, yet cursed his other children with biting miseries and maladies of mind and body; who mouths justice and invented hell - mouths mercy and invented hell - mouths Golden Rules, and forgiveness multiplied by seventy times seven, and invented hell; who mouths morals to other people and has none himself; who frowns upon crimes, yet commits them all; who created man without invitation, then tries to shuffle the responsibility for man's acts upon man, instead of honorably placing it where it belongs, upon himself; and finally, with altogether divine obtuseness, invites this poor, abused slave to worship him!"

Mark Twain