terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Round 2: THE COUNTER-ATTACK !

No que se refere ao protocolado nesta sob o nº 16/06 em 20/02/2006 cabe a esta Direção esclarecer que:

A instituição escola tem como um de seus princípios norteadores formar o indivíduo aprimorando suas idéias e ideais.

Para tanto se ampara em legislação advinda de instâncias superiores (Normas do Ministério de Educação e Cultura e da Secretaria de Estado da Educação) para organizar e direcionar seu trabalho a fim de se conseguir resultados eficazes e de destaque frente a comunidade.

A Escola Estadual José Alvim, de longa data, figura entre as melhores do Estado de São Paulo, por certo esse conceito não advém de um trabalho inadequado.

Os alunos que por aqui passam se destacam em vestibulares das mais variadas instituições do Estado e até fora dele; fato esse de conhecimento de toda a comunidade escolar. A participação em Olimpíadas de Física, Matemática e Língua Portuguesa já trouxe a escola inúmeras premiações. São esses os alunos cheios de ‘idéias’ e motivo de orgulho para professores e direção; alguns deles convidados a deixar essa escola, agraciados com bolsa de estudos integrais, em colégios particulares da cidade, preferem aqui ficar porque têm com essa instituição uma relação de afeto, gratidão e respeito por todos que aqui estão e que, por certo, contribuíram muito para alcançar tais resultados.

Seria incoerente de nossa parte deixar de comentar a atitude do requerente no que diz respeito ao conceito que tem de nossa escola (sua também) no que se refere ao “julgamento” imaturo que faz de nossa postura enquanto educadores, falta-lhe conteúdo para tanto, falta-lhe experiência de vida, faltam-lhe argumentos mais pertinentes, falta-lhe também, um pouco de humildade para aceitar que necessita, ainda, receber lições para fortalecer ou mesmo mudar tais julgamentos. Em nenhum momento questionou-se sua habilidade para jogar xadrez, pelo contrário, convidamos o requerente a fazer parte dos voluntários da escola para que pudesse passar toda sua bagagem nesse campo a outros colegas; infelizmente não fomos atendidos. O que vale reforçar aqui é que a escola não pode ser vista nem “usada” como um lugar onde se comparece, contra a vontade e “para dormir” ou dedicar-se somente à prática de algum esporte.

O auto didatismo e o “talento natural” só podem ser melhorados se aliarmos a eles a experiência e a competência de professores bem preparados e cônscios de suas funções e aqui os temos, muitos. E achar que “nada” em sua formação foi “graças” à escola é ingenuidade de sua parte.

Se nada do que a escola tem a oferecer está ao alcance do seu potencial, quem sabe outra instituição possa atendê-lo melhor e fazê-lo sentir-se “no máximo, confortável”.

Vale ressaltar ainda que, em qualquer turma de alunos sempre existirão os que levam a aprendizagem a sério e por isso preferem se sentar nas carteiras da frente, recebendo maior atenção dos professores e os do fundo; uns jogam conversa fora outros jogam xadrez e perdem a oportunidade de aprender e aproveitar o que o professor tem de melhor.

Os que jogam conversa fora e os que jogam xadrez (mesmo sendo como você mesmo diz “inteligentes”) não apresentam o mesmo comportamento de descaso e descompromisso com relação a escola?

Vale refletir e ponderar melhor suas considerações antes de usá-las da forma precipitada e inadequada.

Quanto ao pedido de mudança para “pelo menos marcar presença” informamos que não podemos atendê-lo por motivo de organização interna da escola. No que se refere a possibilidade de transferência para o período noturno para que agüente “uma hora e vinte minutos a menos”, este não poderá ser acolhido em virtude da ausência total de vagas na série pretendida no período.



Atibaia, 1 de março de 2006.


A Direção, E. E.  José Alvim.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Round 1: FIGHT !

          À Direção:
 
Meu nome é Pietro Borghi, aluno desta escola, agora na 3ª série do Ensino Médio na sala D. Gostaria apenas de salientar o meu profundo descontentamento pelo fato de ter sido mudado de sala. Esse ato, vocês devem acreditar, me impediria de conversar e tumultuar a aula e, conseqüentemente, eu “tomaria jeito”. Na verdade, o único motivo para eu ir à escola acabou. De seis dias de aula até aqui, compareci a apenas um - para dormir.

Fui mudado de sala por causa das minhas idéias a respeito da escola. Cansei de ir à diretoria e ouvir “nós sabemos que você é inteligente”, ou “você vai saber contornar a situação porque você é um aluno muito esperto”. Eu não preciso que alguém me diga que eu sou inteligente, isso eu já sei. Eu só quero respeito. Eu sou repreendido porque ao invés de ficar conversando e gritando no fundo enquanto a professora bate um papo com os alunos na frente, eu estou jogando xadrez. Exatamente, jogando xadrez. Mas, oh, meu Deus, existe alguma atividade mais anti-didática e barulhenta que jogar xadrez? Não que ir assinar uma advertência tenha sido de todo ruim. Por ficar esperando para ser chamado, acabei perdendo a aula de química.
 
Agora vocês me mudam para uma sala na qual eu não conheço ninguém, e devem saber como é difícil se adaptar a uma nova classe depois de seis anos com os mesmos amigos. Os únicos motivos que eu tinha para ir à escola eram os meus amigos, o professor Roberto e o professor de Física (exceto quando ele começava a explicar Física) que sempre trazia uma curiosidade ou outra sobre ciência e história. Visto que o professor Roberto foi embora e eu fui mudado de sala, só sobrou o professor Oduvaldo. Acho que temos três aulas de Física por semana, e considerando que ele tem constantes oscilações de humor, podemos tirar 50 minutos por semana em que eu vou me sentir, no máximo, confortável.

Conversei várias vezes com a Mônica e a Silmara no ano passado. Nada resolveu. A professora Cristina (de Português) ficava brava cada vez que algum aluno perguntava a mim, e não a ela, alguma coisa sobre o Português. O mesmo acontecia com a professora de Inglês. As duas, inclusive, autoras de erros grotescos em relação às matérias delas mesmas. Como quando a professora Cristina disse que a palavra xícara poderia ser escrita na forma “chícara”. Se vocês acharem essa palavra, me corrijam, pois procurei em vários mini-dicionários, além de pesquisar no meu Silveira Bueno de 975 páginas. Claro, ela não é obrigada a saber tudo, mas isso criança de 3ª série (Ensino Fundamental, não confundam) sabe.
 
Depois de todo esse discurso, eu peço que vocês me mandem de volta para a 3ª série (agora Ensino Médio) C. Assim pelo menos eu vou marcar presença. Caso não possam (ou não queiram), vou me transferir para o período noturno, assim terei que agüentar 1 hora e 20 minutos a menos.

Obs.: Nada do que está escrito aqui é graças à escola. Nenhum professor deve se sentir orgulhoso das minhas habilidades de redação. Tudo isso eu devo à minha mãe, à leitura e talento natural (Deus). E pensar que alguns professores me proibiam de ler. 


Legenda: 

Roberto:
ótimo professor de Geografia, além de muito amigável e de bom gosto (exceto que torcia para o Corinthians).
Oduvaldo: professor de Física, inteligente e divertido. Além de não ser em nada politicamente correto.
Mônica: coordenadora pedagógica. Simpática, mas não muito resoluta.
Silmara: até hoje não sei qual era exatamente o título dela. Sei que não era diretora, apesar de parecer sempre ter mais autoridade que a abobada (sem ofensa! Só a verdade) que ocupava o cargo.


Pietro Borghi

Ah! Bons Tempos!

Enfim, como eu estou com preguiça de escrever coisas novas, mas por outro lado não quero deixar o blog morrer, decidi colocar aqui alguns textos que escrevi quando tinha dezesseis para dezessete anos. Neste período, vivi o auge da minha guerra contra o autoritarismo escolar. E era divertido.

Mantive os textos como escrevi e protocolei na direção da escola, sem modificar quaisquer partes que eu agora ache mal redigidas ou coisas sobres as quais penso de maneira diferente — como por exemplo, quando cito Deus, já que não era ateu. O que a direção me respondeu, digitei exatamente como está no papel timbrado.
Começa na próxima postagem!


Pietro Borghi