Agradeço a Daniel Grandinetti por permitir que eu publicasse aqui (mesmo um público mínimo como o desse blog é um público, coléguas!) seu texto que segue.
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Deus não existe, e eu PROVO:
Definição de Deus:
Por ‘Deus’ entende-se, na cultura judaico-cristã, um ser superior, infinito, onisciente, onipresente e onipotente que é criador e fundamento de todas as coisas.
Análise da definição de Deus e demonstração da IMPOSSIBILIDADE de sua existência:
Primeira Análise:
Se Deus é o criador do mundo, ele é distinto de sua criação. Se é distinto de sua criação, ele é determinado, pois toda forma de diferença é uma forma de determinação. Assim, afirmar que Deus é alguma coisa determinada significa dizer que ‘alguma coisa é Deus, mas Deus não é todas as coisas’.
Se Deus é determinado, então ele é alguma coisa espaço-temporal. A indeterminação representa a não-temporalidade e a não-espacialidade; ou seja, Deus só seria atemporal e não-espacial se fosse indeterminado.
Porém, se Deus existe no tempo e no espaço, ele próprio não poderia ser nem o criador e nem o fundamento do tempo e do espaço. Se ele fosse seu criador, ele seria o criador de si mesmo e, na condição de ‘criatura’, não poderia ser Deus. Se ele fosse o fundamento do tempo e do espaço, teria que ser algo diferente tanto do espaço quanto do tempo; caso contrário, ele não poderia acabar com o tempo e com o espaço sem acabar consigo mesmo.
LOGO, é IMPOSSÍVEL que exista um ser que tenha criado o mundo, já que a pressuposição da existência de um tal ser implica na diferença entre este ser e a coisa criada, e tal distinção necessariamente estabelece este ser como um ente espaço-temporal que, nestas condições, não poderia ser nem o criador e nem o fundamento do tempo e do espaço.
Segunda Análise:
Tudo o que é determinado é FINITO. “Infinito” significa ‘aquilo que não possui limites’, e aquilo que não possui limites não pode ser distinto ou diferente de nada, pois toda forma de diferença é uma forma de limitação. Assim, o infinito não pode ser oposto ou diferente da finitude, pois dessa forma o próprio infinito estaria determinado e limitado pela finitude, e seria finito ele mesmo. Se o infinito não pode ser oposto à finitude, deve ser igual à ela. Como?? “Infinito” é o conjunto sem limites de todas as coisas finitas, ou seja, ‘infinito’ é sinônimo de ‘indeterminado’, e alguma coisa só se torna infinita ou indeterminada caso se determine de todas as formas possíveis, ad infinitum.
Se o infinito é indeterminado, então aquilo que é infinito é INDISTINTO de tudo mais.
Assim, se Deus é infinito, ele não pode ser onipresente. Pois aquilo que ‘está presente em todas as coisas’ é DIFERENTE das coisas nas quais está presente. ‘Presença’ é diferente de ‘indistinção’. Se alguma coisa está presente em outra, estas duas coisas são distintas, e apresentam uma RELAÇÃO, não a condição de ‘indistinção’.
Se Deus é infinito, ele não pode ser ‘onisciente’. Toda forma de consciência implica na distinção entre sujeito e objeto. Onde não há esta distinção, não há consciência. Entretanto, se Deus é infinito, não pode haver qualquer espécie de distinção entre Ele enquanto ‘sujeito’ e todas as coisas enquanto ‘objeto’; assim, Ele não pode ser ‘consciente de todas as coisas’.
Se Deus é infinito, ele não pode ser onipotente. O poder de fazer tudo significa o poder de transformar ou criar qualquer coisa. Entretanto, isto implica na distinção entre um sujeito criador ou transformador e um objeto criado ou transformado. Mas na definição de infinito não cabe qualquer distinção deste tipo.
LOGO, se Deus é infinito, ele não pode ser nem onipotente, nem onipresente, nem onisciente. Por sua vez, se Deus não for infinito, ele não pode ser nem o fundamento e nem o criador de nada, e, assim, não pode ser onipotente, pois não teria poderes ilimitados d ecriação e transformação. Além do mais, se Deus não é infinito ele pode ser dotado de consciência, mas não da consciência de todas as coisas, já que a consciência de todas as coisas seria exatamente a consciência do INFINITO, que é INDETERMINADA e que, portanto, não é consciência alguma. Assim, Deus não pode ser onisciente. O mesmo raciocínio vale para a onipresença: se Deus estivesse presente em TODAS as coisas, ele seria, na verdade, infinito. A distinção entre Deus e as coisas nas quais ele está presente implica no fato de que há instâncias destas coisas nas quais Deus não está presente.
Conclusão:
Se Deus é infinito, ele não pode ser o criador do mundo, não pode ser o fundamento de todas as coisas, não pode ser onisciente, onipotente e onipresente e, por outro lado, se Deus é finito ele também não pode ser o criador do mundo, não pode ser o fundamento de todas as coisas, não pode ser onisciente, onipotente e onipresente!!! O conceito de Deus é INSUSTENTÁVEL, por qualquer meio pelo qual se tente analisa-lo.
Observações:
Este é um estudo filosófico, dentro da mais conscienciosa lógica da filosofia ocidental. Assim, é bem provável que sua linguagem seja incompreensível para quem não tem uma grande familiaridade com a Filosofia. Entretanto, eu sugiro VEEMENTEMENTE que todo aquele que quiser expor opinião contrária se prenda nas premissas e tente REFUTÁ-LAS. Defesas clamorosas, piegas, sentimentalistas ou dogmáticas da existência de Deus devem ser evitadas.
Daniel Grandinetti
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