sábado, 1 de janeiro de 2011

Sei não, rapaz. (e você também não sabe, ha!)

Agora segue a minha refutação das análises feitas por Daniel Grandinetti. Se você não leu o texto anterior até ler isso aqui, nem precisa. É muito mais legal assistir a implosão que a construção.
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"Se Deus é determinado, então ele é alguma coisa espaço-temporal. A indeterminação representa a não-temporalidade e a não-espacialidade; ou seja, Deus só seria atemporal e não-espacial se fosse indeterminado."

Há aí uma distinção entre imanência e transcendência, não entre determinação e indeterminação. Indeterminado é aquilo que não se distingue do todo. Alma, pensamentos, Deus, são conceitos claramente distintos, com características próprias. Partilhar da transcendência — i.e. não ser condicionado por espaço e tempo — não os torna conceitualmente inseparáveis e difusos. Mesmo que assim fosse, somente a característica de não serem espaço-temporais já os livra da definição de "coleção de todas as coisas", já que possuem uma propriedade incompatível com o grupo das coisas imanentes. A primeira análise se baseia sobre a indeterminação de Deus; uma vez derrubada essa proposição, derrubada também a conclusão.

"Tudo o que é determinado é FINITO. “Infinito” significa ‘aquilo que não possui limites’, e aquilo que não possui limites não pode ser distinto ou diferente de nada, pois toda forma de diferença é uma forma de limitação. Assim, o infinito não pode ser oposto ou diferente da finitude, pois dessa forma o próprio infinito estaria determinado e limitado pela finitude, e seria finito ele mesmo. Se o infinito não pode ser oposto à finitude, deve ser igual à ela. Como?? “Infinito” é o conjunto sem limites de todas as coisas finitas, ou seja, ‘infinito’ é sinônimo de ‘indeterminado’,

Infinito e indeterminado não são sinônimos. O infinito não é a completa diluição de todos os conceitos em um só, mas a intensificação de uma grandeza de um conceito de maneira inatingível por qualquer outra grandeza. A série dos números reais é infinita, no entanto não pretende conter uma infinitude de conceitos. Ela é determinada de alguma forma, sem que isso a torne finita.

"e alguma coisa só se torna infinita ou indeterminada caso se determine de todas as formas possíveis, ad infinitum."

Determinamos algo para que se torne indeterminado? Então, como eu sou solidário, refutei as análises para corroborá-las.


Pietro Borghi

Não existe!

Agradeço a Daniel Grandinetti por permitir que eu publicasse aqui (mesmo um público mínimo como o desse blog é um público, coléguas!) seu texto que segue.

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Deus não existe, e eu PROVO:
Definição de Deus:


Por ‘Deus’ entende-se, na cultura judaico-cristã, um ser superior, infinito, onisciente, onipresente e onipotente que é criador e fundamento de todas as coisas.

Análise da definição de Deus e demonstração da IMPOSSIBILIDADE de sua existência:

Primeira Análise:

Se Deus é o criador do mundo, ele é distinto de sua criação. Se é distinto de sua criação, ele é determinado, pois toda forma de diferença é uma forma de determinação. Assim, afirmar que Deus é alguma coisa determinada significa dizer que ‘alguma coisa é Deus, mas Deus não é todas as coisas’.
Se Deus é determinado, então ele é alguma coisa espaço-temporal. A indeterminação representa a não-temporalidade e a não-espacialidade; ou seja, Deus só seria atemporal e não-espacial se fosse indeterminado.
Porém, se Deus existe no tempo e no espaço, ele próprio não poderia ser nem o criador e nem o fundamento do tempo e do espaço. Se ele fosse seu criador, ele seria o criador de si mesmo e, na condição de ‘criatura’, não poderia ser Deus. Se ele fosse o fundamento do tempo e do espaço, teria que ser algo diferente tanto do espaço quanto do tempo; caso contrário, ele não poderia acabar com o tempo e com o espaço sem acabar consigo mesmo.
LOGO, é IMPOSSÍVEL que exista um ser que tenha criado o mundo, já que a pressuposição da existência de um tal ser implica na diferença entre este ser e a coisa criada, e tal distinção necessariamente estabelece este ser como um ente espaço-temporal que, nestas condições, não poderia ser nem o criador e nem o fundamento do tempo e do espaço.

Segunda Análise:

Tudo o que é determinado é FINITO. “Infinito” significa ‘aquilo que não possui limites’, e aquilo que não possui limites não pode ser distinto ou diferente de nada, pois toda forma de diferença é uma forma de limitação. Assim, o infinito não pode ser oposto ou diferente da finitude, pois dessa forma o próprio infinito estaria determinado e limitado pela finitude, e seria finito ele mesmo. Se o infinito não pode ser oposto à finitude, deve ser igual à ela. Como?? “Infinito” é o conjunto sem limites de todas as coisas finitas, ou seja, ‘infinito’ é sinônimo de ‘indeterminado’, e alguma coisa só se torna infinita ou indeterminada caso se determine de todas as formas possíveis, ad infinitum.
Se o infinito é indeterminado, então aquilo que é infinito é INDISTINTO de tudo mais.
Assim, se Deus é infinito, ele não pode ser onipresente. Pois aquilo que ‘está presente em todas as coisas’ é DIFERENTE das coisas nas quais está presente. ‘Presença’ é diferente de ‘indistinção’. Se alguma coisa está presente em outra, estas duas coisas são distintas, e apresentam uma RELAÇÃO, não a condição de ‘indistinção’.
Se Deus é infinito, ele não pode ser ‘onisciente’. Toda forma de consciência implica na distinção entre sujeito e objeto. Onde não há esta distinção, não há consciência. Entretanto, se Deus é infinito, não pode haver qualquer espécie de distinção entre Ele enquanto ‘sujeito’ e todas as coisas enquanto ‘objeto’; assim, Ele não pode ser ‘consciente de todas as coisas’.
Se Deus é infinito, ele não pode ser onipotente. O poder de fazer tudo significa o poder de transformar ou criar qualquer coisa. Entretanto, isto implica na distinção entre um sujeito criador ou transformador e um objeto criado ou transformado. Mas na definição de infinito não cabe qualquer distinção deste tipo.
LOGO, se Deus é infinito, ele não pode ser nem onipotente, nem onipresente, nem onisciente. Por sua vez, se Deus não for infinito, ele não pode ser nem o fundamento e nem o criador de nada, e, assim, não pode ser onipotente, pois não teria poderes ilimitados d ecriação e transformação. Além do mais, se Deus não é infinito ele pode ser dotado de consciência, mas não da consciência de todas as coisas, já que a consciência de todas as coisas seria exatamente a consciência do INFINITO, que é INDETERMINADA e que, portanto, não é consciência alguma. Assim, Deus não pode ser onisciente. O mesmo raciocínio vale para a onipresença: se Deus estivesse presente em TODAS as coisas, ele seria, na verdade, infinito. A distinção entre Deus e as coisas nas quais ele está presente implica no fato de que há instâncias destas coisas nas quais Deus não está presente.

Conclusão:

Se Deus é infinito, ele não pode ser o criador do mundo, não pode ser o fundamento de todas as coisas, não pode ser onisciente, onipotente e onipresente e, por outro lado, se Deus é finito ele também não pode ser o criador do mundo, não pode ser o fundamento de todas as coisas, não pode ser onisciente, onipotente e onipresente!!! O conceito de Deus é INSUSTENTÁVEL, por qualquer meio pelo qual se tente analisa-lo.

Observações:

Este é um estudo filosófico, dentro da mais conscienciosa lógica da filosofia ocidental. Assim, é bem provável que sua linguagem seja incompreensível para quem não tem uma grande familiaridade com a Filosofia. Entretanto, eu sugiro VEEMENTEMENTE que todo aquele que quiser expor opinião contrária se prenda nas premissas e tente REFUTÁ-LAS. Defesas clamorosas, piegas, sentimentalistas ou dogmáticas da existência de Deus devem ser evitadas.


Daniel Grandinetti