quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Sobre Nina. Para seus pais.

Tranquilo, sublime
Silencioso, soturno
Sibilante, sonoro
Sombrio, aviltante
O sono que dorme
Que adormece, que grita
Que anda, que come
Que ronca e irrita
Que sussurra gemidos
Insulta e assusta
E novamente emudece
E inerte não mente
Que a paz inerente
Que foge à aurora
No torpor retorna
E o corpo se exaspera de tanto se cansar

A criança levada
Às vezes danada
Conhece cada anjo, cada acorde e arranjo
De alaúdes e flautas
Dos céus intangíveis, mil sons invisíveis
E o adulto austero
Que observa e desmancha
Em espírito e lágrimas
Sente vergonha, remorso
Da danação, do castigo
Do medo, do perigo
Que a faz carregar
Do divino, do santo
Da virtude em seu manto
Do ódio em amar
Já então acanhado
Curvado, agradece
À criatura celeste pela criatura terrestre
E vê que a segunda, em sua calma
Faz à primeira, forte e lauta
O que fez à sua alma
Insuportável, falante
Suspira calada agora
E desfaz o sonho a criança
Que o adulto devora.


                         (Pietro  Borghi)

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